Lara




 LARA é alterego de Luís Miranda II. É também conhecido como Luizinho Gico e Poeta Lara (ou apenas “LARA”).
Nasceu em 01/12/60, em Bom Conselho – PE (agreste meridional sul).
Reside no Recife desde meados de 1979.
Participou, informalmente, do Movimento de Escritores Independentes em Pernambuco (MEI-PE).
Autodidata. É também recitador e participa de recitais desde o início da década de 80.
Atualmente é funcionário da UFPE (assistente administrativo).
Tem outros trabalhos literários (gratuitos) no sítio eletrônico www.interpoetica.com , e no seu blog: egosegogas.blogspot.com.

Fonte: enviado pelo autor




Veneza fudida
 Lara 


As misérias gerais
de tua trajetória
 abortam gargalhadas sombrias
que borbulham em minha carne
como espetos quentes
no eu dos visionários
 que enlouqueceram
sem mais uma vez deixar
maiores pistas
sobre a paranóia metropolitana
de todas as raposas velhas
com status e prestígio.
Sacarei tua lama feudal
 e nela me lambuzarei
como um gato que lambe
a própria sarna.
POIS É!
Recife,
 quede os restos medievais
que não digerimos?
Recife,
quem te sonha de luzes
e mistérios doces?
Recife,
quantos meninos interioranos
 sonham morar nos teus prédios?
Ah, Recife,
quanta rachadura nessa tua
mentalidade de usineiro, hein?
 HEIN, RECIFE?
HEIN, RECIFE?




  
Principado
Lara 


Senhores da Morte, Senhores da Morte,
tou trazendo para os vossos
poderes e superlucros
 os trapos de uma
 comprovadamente desvalorizada
anti-arte
neo-politizada.
(Toma, toma,
 leva o melhor de mim
a preço de banana,
os melhores pedaços do meu mana
pras tuas putas de luxo
exibirem nas feiras e clubes
como troféus.)
Meus caros senhores mortíferos,
promovam um banho de penúrias
e desgraças
como nunca foi visto nesse lugar
e depois ajoelhem-se e rezem,
 ladinos,
sob as lápides
de todas as mortes.
Morte econômica.
Morte social.
Morte ambiental.
Eliminação física.
Morte cultural.
Morte epistêmica.
Morte espiritual.
 MORTE MORTE MORTE MORTE
MORTE MORTE MORTE MORTE




Canibal III
 Lara 


Porque ser poeta...
porque ser poeta...
é uma marca
de ácidos nucléicos?
 de sopro divino?
Espero que sim.
Por que não?
Quero mais
essa necessidade
no sangue.
 Esse eterno e troncho
desejo
de rasgar-se
e comer-se a si mesmo
como um bicho-poeta
que devorasse
a própria natureza
humana,
calidoscópio
de infinitas faces
calidoscópio
de infinitas fomes.
DEVORAR-SE!!!
Pouco importa
se com estética ou não.
Nada de estéticas com fetiches.
O poeta é livre! Livre! Livre!
DEIXA SANGRAR, deixa sangrar,
e que o sangue,
tornado luz,
diariamente ilumine t
ua sede langue,
 teu ardor exangue.
DEIXA DOER, deixa doer,
e que a dor, sábia,
aplaine o caminho
do teu próximo prazer
SIM, SIM, DEIXA MORRER
o que em ti é empecilho
para a dorida ascensão
do teu, só teu, particular conhecimento
de ser.
AMA
tudo o que a morte depura
porque ela e sua lâmina,
a outra face da fartura,
é também impulso
para a tua almejada altura.
DESCARREGA
na tua arte
o que para o mundo é apenas
o teu vôo lunático, tua cruz,
tua parte.
FAZ,
da fonte mesma do horror,
teu objeto de pesquisa,
teu laboratório multicor.




Coração Paranabuc
Lara 


somos todos
hermanos:
los argentinos
e los bahianos




Premonição
 Lara 


Morrerás ainda jovem
(sem grilos:
são muitos os que morrem cedo,
tanto bons quanto maus).
Ficarás com os olhos arregalados
e fixos,
a boca aberta
sugerindo profundezas abissais.
Beatas cantarão ladainhas
no teu velório.
No último segundo de vida
(uma eternidade)
verás claramente
todos os teus erros
e dívidas.
E também mentalmente verás,
pela última vez,
o roxo das flores dos jambeiros
no chão
das úmidas e frias manhãs
num final de inverno
sombrio.




Dúvida cruel
 Lara 


entre o ódio classista
e o afeto familiar,
não sei o que fazer:
desistir
pirar
morrer





Concretude
Lara 


fato real:
todo poeta
marginal
deseja ser
abençoado
por
João Cabral




Virada fatídica
 Lara 


As medusas
venceram.
Perseu
se fudeu.




Letra de música
Lara 


Quando os sonhos ruírem,
baby,
passe por mim:
eu sou sem sonhos.
Me atravesse.
Quando as ilusões morrerem,
baby,
passe por mim:
eu não tenho ilusões.
Quandos os castelos de areia
desmoronarem,
baby,
passe por mim:
eu nunca fui príncipe
nem sonhei com princesas.
Me atravesse.
Quando o cansaço
finalmente chegar,
descanse um pouco
em mim,
nestes loucos braços,
e vá em frente:
supere-se.
Não há portos aqui.
Nem paradas eternas.
Sou ponte.
Passagem.




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