Jorge Filó




Jorge Renato de Menezes, é o nome de pia do poeta Jorge Filó. Nascido em Recife, logo nos primeiros meses, foi levado para morar no sertão do Pajeú, terra do pai e da mãe, e dos grandes mestres do repente, a começar pelo pai, poeta Manoel Filó, de quem herdou a alcunha. Sua poesia é fruto da hereditariedade, e de algo como um germe da poesia, que infecta toda família dos Filó. É neto, filho, irmão, sobrinho, primo e amigo de poetas. Viveu a infância entre as cidades de Recife, Tuparetama, São Jose do Egito e Arcoverde. Nesta última, viveu da adolescência a fase adulta, quando mudou-se para o Recife, onde reside até hoje. É produtor cultural, membro da Unicordel-PE (União dos Cordelistas de Pernambuco), produz a banda Vates e Violas e mantém este blog sobre poesia e cultura popular em geral, No pé da parede.

Fonte: No Pé da Parede




Política
Jorge Filó


A Direita e a Esquerda
São forças muito distintas
A Direita só tem lobas
Devoradoras famintas
As ovelhas da Esquerda
Hoje em dia estão extintas.




Vaidade
Jorge Filó



Não acredita em ninguém
Também não ouve conselho
Só enxerga o próprio umbigo
Agarrada no joelho
E o mundo é resumido
Na sua imagem no espelho.




"Pedrerastia"
Jorge Filó


Na poesia concreta
Constrói-se pra todo lado
Até no mundo das pedras
Tem tijolo que é veado
Qual ferro duro da viga
Dentro do concreto armado




Loucura
Jorge Filó


Quem dela não se alimenta
Quem não tem sua porção
Quem passa a vida sem ela
Quem dela nega a ação
Também não tem lucidez
Pra fazer comparação.



Preguiça
Jorge Filó


Para falar de preguiça
Eu estou muito cansado...




Aos hipócritas
Jorge Filó


Eu vou jogar uma pedra
Na vidraça do teu riso
Pra te deixar indeciso
E pra te fazer chorar.
Não suporto o teu cinismo
E esse teu riso forçado
Eu quero ver sepultado
Na cova do teu azar.

Eu vou te infernizar
Bagunçar tua estrutura
Rasgar a tua figura
O teu espaço invadir.
Consumir tua energia
Elevar tua pressão
Deixar-te na solidão
Só pra não te ver sorrir.

Vou em teu prato cuspir
Destruir teus ideais
Jogar-te pra os canibais
Só pra não te ver feliz.
Quero roubar teu sossego
Todo instante toda hora
Tua paz vou jogar fora.
E ainda pedir bis.

Eu vou ser o teu juiz
Descobrir o teu segredo
Pra saber qual o teu medo
E eliminar teu poder.
Quero sugar o teu sangue
Alimentar-te o pavor
Pra mostrar que a tua dor
É o que me dá prazer.




O dia em que Arnaldo Jabor se olhou no espelho...E se viu.
Jorge Filó



Este cordel que apresento
Sem nenhuma pretensão
E mesmo que lhe pareça
Ser verdadeira a versão
Ainda que eu não garanta
É uma mera ficção.

Assim começa o cordel
Justo na reflexão
Tô falando do espelho
Da nossa imaginação
Que as vezes num belo dia
Prega em nós grande lição.

Como se Arnaldo Jabor
Num exame de consciência
Um belo dia acordasse
Com toda sua eloqüência
E em conversa mostrasse
Sua verdadeira essência.

"Caros amigos leitores
Eu sou Arnaldo Jabor
Cineasta e jornalista
Direitista e traidor
Também sou um caga-pau
Xeleleu e delator.

Do clã Roberto Marinho
Sou baba-ovo da hora
Digo só o que eles querem
Creio e nego, sem demora
Sou um neo-liberalista
Por enquanto, até agora.

Um dia já fui esquerda
Era na luta engajado
No cinema brasileiro
Contestei fui contestado
Hoje meu cinema é outro
Pelo poder fui comprado.

Hoje voto na direita
No maior descaramento
Nego tudo que outrora
Mostrava em meu pensamento
Glauber Rocha tando vivo
Seria o meu tormento.

Mudei de convicções
As antigas companhias
Agora sou um amigo
Das grandes oligarquias
Digo tudo qu'eles mandam
Mentiras, patifarias.

É assim que a coisa anda
É assim que o mundo gira
Sou um lobo carniceiro
A serviço da mentira
Se eu não tirar o meu
Chega outro vem e tira.

Faço uso da palavra
Pra defender meu quinhão
Quero mais é que se foda
Quem defende esta nação
Meu caviá garantido
Para quê preocupação.

Sou perverso no que digo
E ainda sou respeitado
Pois a mentira é quem dita
Dita por quem ta do lado
Dos grandes exploradores
Do poder televisado.

Faço do verbo navalha
Quero mais é ta por cima
Vai viver sempre enganado
Aquele que subestima
A minha capacidade
De cagar uma obra-prima.

Agora devo ir embora
Meu trabalho me espera
Vou inventar outra estória
Para parecer de vera
E quem ler sempre acredita
Na minha nova quimera."

Este cordel esquisito
Que acabamos de ler
É fruto do pensamento
Que acabo de escrever
Me chamo Jorge Filó
Em mim você pode crer.



O inimaginável
Jorge Filó


Não consiste de matéria
Reside em todo ambiente
Até no vão da semente
Sua existência é etérea
Também está na artéria
Que espalha sangue num gato
Na faca de tratar fato
No gomo da poesia
No oco da melancia
Que a raposa deu um trato.

No solado de um chinelo,
No batente da calçada,
Em cima de uma latada,
No estrondo do martelo,
Pintado de amarelo,
Pode ter qualquer formato,
Tá na cidade e no mato,
No olhar frio da jia,
No oco da melancia,
Que a raposa deu um trato.

Não sei quem diabo já viu
Porém tá em todo canto
E pra me causar espanto
O danado hoje sumiu
Não sei por onde saiu
Pois ninguém tirou retrato
No sentido estrito ou lato
Às vezes ele se enfia
No oco da melancia
Que a raposa deu um trato

Lhes digo sinceramente
Que eu nunca o avistei
Outro dia até pensei
Tê-lo inventado na mente
Mais nisso rapidamente
Ele veio em meu olfato
Trazendo seu cheiro inato
Que eu sei que já existia
No oco da melancia
Que a raposa deu um trato.



Sexta 13, lua cheia
Jorge Filó


Hoje é sexta feira 13
E noite de lua cheia
O satanás corre solto
Lascando o mundo de peia
E as bruxas catam os ímpios
Para fazer sua ceia.

A terra toda incendeia
No caldeirão da vaidade
A perversidão das gentes
Não chega nem na metade
Dos castigos que virão
No furor da crueldade.

A besta mor da maldade
Com seu chicote de fogo
Nesta noite tenebrosa
É quem vai bancar o jogo
Não vai da trégua a ninguém
Que mesmo aos céus façam rogo.

Não vai haver desafogo
Nem tão pouco mansidão
As sete pragas do inferno
Sobre a terra explodirão
E a partir desta noite
Só os fortes viverão.

Isso não é previsão
Mas realidade certa
Não saia hoje de casa
Nem deixe a porta aberta
Espere o nascer do sol
Que nova era desperta.





Limeirando
Jorge Filó



Um sibito baleado
Com uma faca na cintura
Comeu vinte rapadura
Que ficou de buchu inchado
Fumou doze baseado
Sentado numa fogueira
Debaixo duma pingueira
Viajando no espaço
Eu querendo também faço
Igualzinho Zé Limeira.

Comprei um dia em Belém
Um avião de mentira
Uma espingarda sem mira
Dezoito vagão de trem
Dei uma nota de cem
Num pedaço de mangueira
Depois que findou a feira
Joguei tudo no espinhaço
Eu querendo também faço
Igualzinho Zé Limeira.

Montado numa jumenta
Fui até o Paquistão
Sem gastar nenhum tostão
Ver a copa de setenta
Minha mulher ciumenta
Discutiu com uma parteira
Foi quando eu vi a fateira
Comendo um taco de baço
Eu querendo também faço
Igualzinho Zé Limeira.

Um filho de rapariga
Cujo pai se chama Bio
Foi pra puta que pariu
Só pra arrumar intriga
Quando começou a briga
Teve logo caganeira
Pensou que fosse besteira
Mas findou mexendo um traço
Eu querendo também faço
Igualzinho Zé Limeira.

É a noite um menino
Que berra, berra e chora
Depois que o sol vai embora
Nas badalada do sino
É quando vem um suíno
Carregando uma lancheira
Com pirão de macaxeira
Numa tirrina de aço
Eu querendo também faço
Igualzinho Zé Limeira.

Na antiga antiguidade
No passado que passou
Foi quando o vento ventou
Pro moço da mocidade
Partiu no meio a metade
No começo da primeira
No finzim da derradeira
Circulando no compasso
Eu querendo também faço
Igualzinho Zé Limeira.

Nena de Arimateia
Filho de Zefa de João
Comprou vinte caminhão
Só pra andar na boleia
A sua filha Medeia
Furunfava com Nogueira
Foi debaixo da lameira
Que ela perdeu o cabaço
Eu querendo também faço
Igualzinho Zé Limeira.

No dia que a rês pariu
ove crias de uma vez
Uma galinha pedrês
Avisou com um assobio
Só quem é cego não viu
Pois tava aberta a porteira
Mas debaixo da esteira
Tinha um calor de mormaço
Eu querendo também faço
Igualzinho Zé Limeira.







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