Gerusa Leal




Gerusa Leal nasceu em Recife, Pernambuco, mora em Olinda e é autora de contos e poemas publicados nas coletâneas Contos de Oficina, organizadas pelo escritor Raimundo Carrero, Pimenta rosa, O fim da velhice, O talento com as palavras, Panorâmica do conto em Pernambuco, Anais da FLIPORTO, Haikais poemínimos senryus, Recife conta o São João - estas duas últimas pela Fundação de Cultura Cidade do Recife. Conquistou premiação nos concursos Luís Jardim com o conto Por um triz, Prefeitura de Cordeiro – RJ com Anacy, Maximiano Campos com Os brincos prateados, Fliporto com o poema Momento, e mais recentemente o prêmio Edmir Domingues de Poesia 2007 da Academia Pernambucana de Letras, com o livro de poemas versilêncios, lançado em março/2009.

Fonte: biografia (Rede de Escritoras Brasileiras-REBRA)
            Poemas (enviados pela autora)





Solidão
Gerusa Leal



perdido na multidão
dos tantos que me povoam
contigo também não sou
no espelho
meu olhar
se enche do teu amor
depois a sala vazia
para sempre







Paleta
Gerusa Leal



Um sol fluorescente entra pela vidraça
Desenha
No café da manhã
As folhas da trepadeira
Que sobe pela grade.

Um vento preguiçoso de vez em quando
Ondula o esboço
De natureza viva sobre a mesa.
O lado direito do corpo
Se amorna ao sol de julho.
O lado esquerdo sabe que é inverno
Arrepia.

Mas palavras não são
Tintas nem pincéis.





Cintilância
Gerusa Leal



Desde que brota
Desejante
Vai umedecendo de vida todo o curso

Num remanso
Embora feita de assossego
Embora pura harmonia
Inacessível e mansa
Branca e elegante se faz garça

E num segundo de descuido
Deixa-se fotografar
Desnuda






Momento
Gerusa Leal
                          (poema premiado com o 3º lugar no concurso literário Fliporto 2006)



O espelho que me interroga evoca antigo retrato
No quarto deserto, inundado por oceano de aço,
Onde correntes de versos vazados a faca se esvaem
Em cartas não escritas, laços frágeis,
Pássaros feitos pedra em pleno vôo.

Nostalgia de percorrer estradas
Sem rumo certo ou prazo de chegar.






Eterno
Gerusa Leal



Mais que sorriso silente
Mais que ruidosa mudez

Mais que paleta de tintas
Ressecada, quebradiça
Que o pincel endurecido
No ateliê deserto

Mais que partir outra vez
Dói a terrível certeza
Do retorno sempre certo







Não-falo
Gerusa Leal



Falo de mãos e de dedos
Falo de figos
E de seus segredos

Falo de lábios e línguas
Falo de peixes e serpentes
E maçãs

Falo de pele e de arrepio
Falo de velas, espadas e
Bastões

Falo de cheiros e de sabores
Falo de flores
Falo de romãs

Falo de cálices, de sinos
E de torres
Falo de calores e de convulsões

Falo e a noite se vai
E eu não durmo

Não-falo







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