Fonte: biografia (Rede de Escritoras Brasileiras-REBRA)
Poemas (enviados pela autora)
Solidão
Gerusa Leal
perdido na multidão
dos tantos que me povoam
contigo também não sou
no espelho
meu olhar
se enche do teu amor
depois a sala vazia
para sempre
Paleta
Gerusa Leal
Um sol fluorescente entra pela vidraça
Desenha
No café da manhã
As folhas da trepadeira
Que sobe pela grade.
Um vento preguiçoso de vez em quando
Ondula o esboço
De natureza viva sobre a mesa.
O lado direito do corpo
Se amorna ao sol de julho.
O lado esquerdo sabe que é inverno
Arrepia.
Mas palavras não são
Tintas nem pincéis.
Cintilância
Gerusa Leal
Desde que brota
Desejante
Vai umedecendo de vida todo o curso
Num remanso
Embora feita de assossego
Embora pura harmonia
Inacessível e mansa
Branca e elegante se faz garça
E num segundo de descuido
Deixa-se fotografar
Desnuda
Momento
Gerusa Leal
(poema premiado com o 3º lugar no concurso literário Fliporto 2006)
O espelho que me interroga evoca antigo retrato
No quarto deserto, inundado por oceano de aço,
Onde correntes de versos vazados a faca se esvaem
Em cartas não escritas, laços frágeis,
Pássaros feitos pedra em pleno vôo.
Nostalgia de percorrer estradas
Sem rumo certo ou prazo de chegar.
Eterno
Gerusa Leal
Mais que sorriso silente
Mais que ruidosa mudez
Mais que paleta de tintas
Ressecada, quebradiça
Que o pincel endurecido
No ateliê deserto
Mais que partir outra vez
Dói a terrível certeza
Do retorno sempre certo
Não-falo
Gerusa Leal
Falo de mãos e de dedos
Falo de figos
E de seus segredos
Falo de lábios e línguas
Falo de peixes e serpentes
E maçãs
Falo de pele e de arrepio
Falo de velas, espadas e
Bastões
Falo de cheiros e de sabores
Falo de flores
Falo de romãs
Falo de cálices, de sinos
E de torres
Falo de calores e de convulsões
Falo e a noite se vai
E eu não durmo
Não-falo
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