Edvaldo Bronzeado



Edvaldo Bronzeado nasceu em Paulista, Pernambuco, em 1939. Durante muitos anos, manteve um atelier no Engenho do Meio, onde atuava como designer gráfico, fazendo embalagens, logotipos/marcas e arte visual. Sempre ligado às cores, às formas e aos sons, escrevia e compunha sonetos, baladas, sambas e cordéis.  A preferência pelas formas fixas e pelo ritmo exuberante – ressaltado na linguagem do cotidiano, é uma marca na sua poesia.
Edvaldo Bronzeado integra a coletânea poética Marginal Recife 3, obra editada pela Fundação de Cultura, em 2004. O poeta foi o vencedor, em 2006, da 1ª Recitata, concurso de performance poética do Festival Recifense de Literatura – A Letra e A Voz. Edvaldo Bronzeado faleceu em fevereiro de 2012.

Fonte:biografia (festival a letra e a voz)  
            poemas (Coletânea Poética Marginal Recife III)




Discurso azul
Edvaldo Bronzeado



No dia nacional dos olhos teus,
Imune que já sou anti-gravata,
Eu boto um chorte blu e alpercata
E saio por aí feito um judeu.
Pregando que te amo dou embate,
Usando o meu buquê feito um Sansão
Ao Césio infeliz que desacate
Querendo atomizar teu coração.
No dia nacional dos teus olhos,
Também conhecido por do anil,
Entupo todo cano de fuzil
Com dálias, cravinas e chananas.
A cada maloqueiro três bananas.
A cada feridento um cataplasma.
A cada amenorréica uma cenoura.
Cigarro de fulô a quem tem asma.
Dum frevo faço hino na Pracinha,
Os braços a fidalgos e plebeus,
Eu canto: Se essa rua fosse minha
No dia nacional dos olhos teus.




Cardina
Edvaldo Bronzeado



Que estrelas tontas desovaram nos seus olhos?
Que raio doido feito gema neste olhar?
É um torpor. Alucinante ópio-luz
Que me destrava do que sou
Que me alicia, me vicia, me seduz.
E é esse astro que ela acende
Quando o verbo já não diz;
Que desvaria e me pende
Pr'umas coisas que já fiz
E me dei mal.
É uma cardina que me fascina
Como ao lobo faz a lua.
Sou borboleta rodeando a lamparina.
Menino tonto espiando moça nua.




Índigo
Edvaldo Bronzeado
                                      (acalanto em dó-maior)



Decerto azul é o que for sereno e manso.
Parece água sua leve langerri
Que não lhe veste porém não lhe desnuda
Minh'alma cuida do tiquinho que dela vi.
Eu disputando com estrelas na janela,
Brechando a moça no seu vago ressonar

E de repente um gato branco, assim, de banda
Eu na varanda o coração me quis faltar.
Nos olhos dela o azul roubado ao céu
É o mesmo blu a ondular no organdi.
Há muitos anos de perdão, há muitos mil
Por todo anil na camarinha de Nancy.
Dorme, dorme em paz menina.
Dorme. O tal boi não é daqui.
Dorme, dorme devagar:
Aquele boi já viajou pr'o Piaui.





Maquissude plaza
Edvaldo Bronzeado



Faço tudo, Dulcinéia, inda não pude
Almoçar com você no Maquissude.
Mas de mim não descarto essa proeza.
Inda ontem repastei num come-em-pé
Um guisado no Mercado São José.
Martelando na cabeça endoidecida,
Eu pescando acará, peixinho de açude:
Eu almoço com Dudu no Maquissude.
Ontem mesmo, mastigando um tira-gosto
Meu juízo trouxe aqui você presente
E tomei outra lapada de aguardente.
Mas um dia, te garanto, Dulcinéia,
O meu Santo Expedito não me ilude,
Eu almoço com você no Maquissude.
E duvido quem me empate de sonhar!
Hoje o rango é na feira, é na tolda.
É galinha com arroz, feijão-de-corda.
Mas eu entro, muito ancho, em semi-leito;
O melhor que há na garagem de João Tude
E me levo com você ao Maquissude.
Já me sinto vomitar o cerebelo.
Veja a conta, quanto é Seu Vicentinho,
A meiota de PITÚ e o pratinho!





Viola amotinada
Edvaldo Bronzeado



Ajuda Mistréia,
O meu pinho endoidecido
Que num espasmo decidido
Deu de louvar o Mar.
Assiste amiga,
A viola que se abruta,
Que se volta, dissoluta
Para os baques de Iemanjá.
Cuida, minha nêga,
Da madeira vã e oca
Que adere, besta e louca
Aos cantos do Obatalá.
Acode amiga!
Este pau-de-dar-em-corno
Afina agora ao suborno
Dos baques de Orixalá!
É doida, Mistréia:
Se deu, de bojo, aos bantus.
Agora prenhe de lundus
À trova não quer voltar.





Drummond
Edvaldo Bronzeado



Itaúba - Itaoca - Itambé

Itapeba - Itaúna - Itacuã
Itapissuma - Itajubá - Itapuã
Itaberaba - Itabirito - Itararé
Itaipava - Itã - Itaguagé
Itacuruba - Itamaracá - Itá
Itapiranga - Itaetê - Itaberá
Itacajá - Itamirim - Itacaré
Itabira -
No meio do caminho tinha uma pedra.









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